Big Bang e mansões em ruínas

 Copyright Mario Jodra
"[...] at length found myself,
as the shades of the evening drew on, within view of the
melancholy House of Usher. I know not how it was--but, with the
first glimpse of the building, a sense of insufferable gloom
pervaded my spirit." - The Fall of the House of Usher by Edgar Allan Poe

Acredito que o Universo começou com o Big Bang porque eu só consigo criar coisas novas depois que as anteriores explodem. Vai ver The Powers That Be tiveram uma decepção (amorosa, de amizade, no trabalho) e decidiram explodir a merda toda e começar de novo. Super entendo.

Tem momentos da minha vida em que eu percebo que minha rotina é uma mansão em ruínas. Assim, bem à la Edgar Allan Poe. Nos halls e quartos ainda dá pra ver a beleza do passado. Quão cheia de vida a casa já foi e quanta alegria trouxe pra quem morava ali. Mas o papel de parede está descascado, os móveis empoeirados e só alguns fantasmas sobraram. E eu. Numa mistura de nostalgia e medo do desconhecido, eu ainda fico um tempo vagando na ruína.

Até que ela explode. Daí tudo bem. Porque eu sou boa de criar relações, mas ainda melhor de terminá-las. Sem olhar pra trás mesmo, defunto enterrado. Vou no enterro, choro, sofro. Mas enterrou, acabou.

Tem todo um universo novo me esperando.

A Fênix do cabelo


Sempre que estou insatisfeita com alguma coisa significativa na vida (mesmo que não saiba ao certo o quê), eu mudo o cabelo. Não é necessariamente que eu não goste do meu cabelo natural, mas só me encontro nele em raras e esparsas ocasiões, tipo um cometa.

No resto do tempo, eu me submeto aos 12 trabalhos. Minha mãe, que vai ao cabeleireiro toda semana religiosamente e cujos cabelereiros são uma mescla de amigos e terapeutas, não entende minha relação com o lugar. Ela usa o mesmo corte e a mesma cor há mais de 20 anos. Já eu só vou ao salão pra mudar muito. Se saio igual me sinto um fracasso. Porque salão pra mim é uma espécie de prova de fogo.

Eu realmente detesto salão. Acho que nunca fui a um salão em que não me sentisse feia, incompetente, desconfortável ou irritada em algum momento. A lista de crimes que aparentemente cometo contra o meu cabelo só faz crescer. Meu cabelo é sempre seco demais ou fino demais ou grosso demais ou muito longo ou muito curto, muito claro ou muito escuro. Cabelo demais. (Sendo justa, eu realmente tenho bastante cabelo). Mas cada obstáculo é uma conquista. 

A tinta arde a cabeça. Meu IPTU subiu. Puxão de cabelo. Aquela minha turma fechou. Lavatório desconfortável. Eu devia voltar pra dieta. A perua quer saber da minha vida, perguntando bem alto. Não sei o que fazer do meu trabalho. Lindas mulheres loiras, sempre loiras. O carro tem feito um barulho estranho. “Você usa leave in? Tem que usar”. Já não era pra eu ter minha carreira resolvida a essa altura?

No fim, tudo escorre como a espuma no lavatório. 

“Olha, não tinha certeza, mas ficou muito bom, né? Combinou com seu rosto, ficou linda!”

Cabelo novo. A motivação renasce das cinzas.

Menos que Jamais

2008 | 2018

Juliana Cunha me fez ressuscitar esse blog. Juliana Cunha não me conhece nem nunca me viu mais gorda, mas às vezes eu chego cedo pra terapia e na sala de espera tem um livrinho que eu ia lendo aos poucos, algumas páginas antes de cada sessão. “Já Matai Por Menos” é uma coletânea de textos do blog da Juliana (essa semana finalmente comprei o livro, então sinto que já tenho intimidade suficiente pra chamá-la de Juliana. Quando acabá-lo vou chamá-la de Ju, com certeza). Mas voltando ao assunto, achei levemente surreal um livro de textos de blog. Sim, podem ser consideradas crônicas, mas algumas são claramente posts, quase tuítes. Então eu, que sempre tive um desejo não-muito secreto de um dia publicar um livro pensei “ah, what the hell, por que não?”, e cá estou de volta. 

Imagino que os textos que eu publicava aqui hoje em dia poderiam ser posts no Facebook, mas pra mim, enquanto um blog se assemelha a um diário, postar textões no Face me parece mais gritar a sua opinião na escola, no trabalho ou na fila do supermercado. Então serei old school e vou continuar por aqui mesmo.

Vou ser sincera: primeiro vim revisitar o JOM como quem fuça o perfil do ex — em parte é nostalgia e curiosidade, mas a maior parte é receio de que vocês nunca foram tão bons assim e ele está bem melhor sem você. Mas sabe que não? Quase não tive vergonha ao reler meus antigos textos (mesmo eles tendo quase 10 anos, sido escritos em outra vida, por outra eu) e me deu um calorzinho no coração ao (re)descobrir que algumas pessoas — completos estranhos! — tinham deixado comentários. Comentários positivos! Aqueles seres semi em extinção na internet... 

Então voltei. Não sei bem o que se pode esperar disso aqui. Crônicas? Prosa? Curiosidades? Opiniões que não interessam a ninguém? A verdade é que eu não sei nem o que ele era, então é difícil dizer o que vai ser daqui pra frente. 

Só sei que voltei em menos do que “jamais”.

O anel da rainha

Foto da rainhazinha por Penny Jack, a Nebulosa do Anel adicionada por mim


Em um certo contraponto ao Manifesto Infeliz...


‘Era uma vez um reino feliz e próspero, onde a rainha tinha súditos muito fieis. Um deles, porém, estava começando a se tornar orgulhoso. “Eu sou o súdito mais fiel de todos”, ele dizia. A rainha, para diminuir a arrogância do rapaz, decidiu mandá-lo em uma busca impossível.

“Meu súdito, eu quero que você me traga um anel mágico. Um anel que torne as pessoas tristes felizes, e as pessoas felizes, tristes.”

O jovem não pensou duas vezes e partiu para cumprir a missão de sua rainha.

Durante muito tempo ele andou, de cidade em cidade, perguntando para todos os sábios se eles conheciam o tal anel. Alguns simplesmente negavam; outros riam do jovem, achando aquilo impossível.

Esgotadas suas esperanças, o jovem súdito fez seu caminho de volta ao reino, muito triste por ter falhado com sua rainha. Chegando na cidade, cansado e sem muita coragem de ir até o palácio e dizer à rainha que não havia encontrado o anel, ele sentou-se em frente a uma pequena oficina. O ferreiro, dono do lugar, vendo o rapaz tão triste, perguntou o que lhe tinha acontecido. Ao ouvir seu relato, o ferreiro disse: “Venha comigo. Eu vou fazer esse anel para você”.

A princípio, o rapaz não acreditou que aquele velho ferreiro realmente fosse capaz de atender ao pedido da rainha, mas ao ler a inscrição dentro do anel recém-forjado, suas tristezas se dissolveram em um grande sorriso.

Feliz, ele foi até o palácio, onde estava acontecendo uma grande festa. A rainha, animada com o evento, achou engraçado quando anunciaram a presença de um jovem súdito que lhe trazia um presente.

“Eu consegui, Majestade, eu encontrei!”, ele anunciou e entregou o anel à rainha.

No momento em que leu a inscrição, ela lembrou-se da missão que havia dado ao rapaz já há tanto tempo, e seu sorriso evanesceu. Sábia, ela suspirou e concordou; ele havia conseguido.

Dentro do anel, podem-se ler as palavras: “Isso também passará”.’

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* História do folclore judaico. A versão da Wikipedia involve o Rei Salomão. Provavelmente, essa é uma história que faz parte das intersecções de histórias de todas as culturas. Mas essa foi a versão que eu ouvia quando era criança, por isso contei assim.

Conforme eu fui crescendo (não necessariamente intelectualmente, digo cronologicamente mesmo), comecei a gostar mais de histórias em que, no final, você suspira e dá um pequeno sorriso, mais que daquelas em que você sai chorando até seus olhos derreterem ou rindo até compensar a ausência de abdominais na sua vida.

Eu sempre gostei da sutileza dessa história. É uma das minhas preferidas, junto com a história sobre a história...

Mas essa fica pra uma outra ocasião...


Sessentindo:


Esperançosa (principalmente após 1 semana de gripe)




Audiovisuando: "Merlin" (1998) - tecnicamente tosquinho, mas ótimo!

Perguntas sagradas


Hierofante, do tarot do Dave McKean

Do grego: hieros “sagrado” + phainein “revelar, trazer à luz”


Em 2001, a jornalista do New York Times Natalie Angier escreveu um texto chamado “Confissões de uma ateia solitária”, sobre as dificuldades que enfrentava ao assumir seu ateísmo na era Bush.

Depois que eu tive a ideia para esse texto, demorei uma semana para realmente começar a escrevê-lo. Não exatamente para organizar as ideias na minha cabeça, mas para acalmá-las. Porque – e isso não é novidade para quem me conhece – esse me é um assunto sensível. Mas essa sensibilidade não é exclusiva. Na verdade, todo mundo é sensível a esse assunto. Já tive discussões homéricas com pessoas que nem sequer eram religiosas, por discordar de assuntos que simplesmente “não se discutem”. Porque, afinal, pode-se ser a favor do aborto, da pena de morte, do suicídio e da legalização das drogas e da prostituição, e isso é democrático. Mas se você é contra religiões, você é nazista.

Portanto, fica o aviso. Você pode se ofender com o assunto desse texto. Aliás, estatisticamente, você vai se ofender com o assunto desse texto. Mas, se mesmo assim quiser continuar a lê-lo, abre-se aqui o debate.

O que mais me preocupa quando entro em uma discussão a respeito da “fé” vs. “ciência” é que, frequentemente, as pessoas as colocam no mesmo pacote. Se você é ateu, você provavelmente já ouviu essa frase: “Se você quer acreditar na ciência e quer que os outros respeitem isso, também tem que respeitar a fé dos outros.” Vou colocar aqui, então, uma explicação simples, do Wiktionary em tradução livre (já que esse artigo não existe em português), sobre o que é o método científico, para estarmos todos na mesma página.

Método científico: método de descoberta, a respeito do mundo natural, baseado na criação de hipóteses, testadas empiricamente, desenvolvidas e revisadas para a constituição de teorias que melhor expliquem os dados conhecidos.

Em resumo, a ciência não depende de opinião. Qualquer hipótese deve, e é, testada e comprovada antes de ser considerada verdadeira. E ainda assim, está sempre disposta a ser revisada e, se necessário, desmentida. A fé não funciona assim. A fé baseia-se no oposto, na ausência de debate e questionamento; no crer, e fim. Portanto, “acreditar” na ciência não é o mesmo que “ter fé” na ciência, porque a ciência não exige fé. Ela exige lógica e, como qualquer outro homo sapiens sapiens, isso eu tenho. O que me incomoda em qualquer religião é exatamente a negação do que naturalmente nos diferencia dos outros animais: a racionalidade.

Porém, só muito recentemente, percebi algo que pode explicar essa frequente confusão entre “ter fé” e “acreditar”: professores de ciências ruins.

Podem parecer fenômenos não-relacionados, mas para muitas pessoas, provavelmente existe pouca diferença entre um sermão em uma igreja e uma aula de biologia. (Com a suposta diferença de que “bombar” no primeiro, significaria uma eternidade no inferno...). Se em algum momento elas perguntassem “mas por que isso é assim?”, a resposta, em ambos os casos, seria “porque está no livro”. Na religião, essa resposta faz completo sentido, já que os escritos da bíblia/torá/alcorão/etc. parecem ser provas suficientes para qualquer coisa. Em uma aula de ciências, isso é um crime.

Tolher o questionamento de uma criança é sinônimo de deseducar. É a antítese do método científico. Isso cria uma aceitação passiva, sem raciocínio. E entre um dado abstrato cuspido, e uma “boa história”, adivinha qual a criança vai escolher? Daí nascem os ‘museus criacionistas’ dos Estados Unidos.

Por falta de boa vontade, ou mesmo de conhecimento, sem querer, professores de ciências, que deveriam ser a maior expressão de uma sociedade humanista, contribuem para o aumento de pessoas passivas, supersticiosas e, quase consequentemente, religiosas.

O Iluminismo, heroi da Modernidade, foi substituído por um tacanho senso de respeito e tabu.

Mas eu tive bons professores de ciências. Portanto, eu não acredito que existam assuntos que simplesmente “não se discutem”. Como denuncia Richard Dawkins, as religiões têm sido protegidas por uma cortina de intocabilidade por tempo demais.

Eu sonho com um mundo e um tempo em que, em qualquer idade, é possível perguntar, questionar, debater qualquer assunto; em que as pessoas têm suas crenças porque chegaram a elas através de suas próprias conclusões, não de doutrinamentos; em que dogmas, superstições e violências causadas pelas religiões sejam deixados para trás; em que explicações sejam sempre buscadas; um mundo com bons professores de ciências.

Eu sonho com um mundo não tão solitário para uma ateia. Mas eu vivo neste.



ETA: Só pra constar. Eu não acho que apenas gênios, como o Saramago ou o Dawkins, possam blasfemar e serem respeitados. Venho por meio deste evocar meu direito à blasfêmia. Obrigada, tenha um bom dia.


Sessentindo:

Injustiçada


Audiovisuando: Richard Dawkins on militant atheism - TED talk

Mentiras sinceras interessam, por Renata Lopes

La Bocca della Verità


"Sempre achei que ser honesta era o mais nobre dos comportamentos. Falar, na cara, e pronto. Sem papas, sem enrolação. Mas a maturidade vem me ensinando que não, nem tudo que é honesto e sincero merece ser dito. Tem hora pra tudo.
Exemplo: uma história que ouvi recentemente. Eles estavam se conhecendo, ficando juntos há um mês. Diferentes, se encontravam num espaço comum aos dois, um terceiro universo, que não era o dele, nem o dela. Então, numa noite, ele sai da casa dela dizendo que gosta dela, mas precisa ver outra mina, pra ter certeza de seus sentimentos.
Alguns podem achar a atitude exemplar, afinal, é melhor a verdade que dói do que a mentira que conforta. Mas, calma lá. Não eram namorados, não tinham um vínculo estabelecido, só estava muito bacana ficarem juntos e, pessoas românticas pensam no futuro. Enfim. Este é o tipo de sinceridade desnecessária. Ela preferia acreditar que ele estaria muito ocupado no fim de semana, ou teria ido viajar com a família, com amigos, ou qualquer outra coisa que não a fizesse sentir-se idiota e palhaça. Jamais saber que o cara foi ver outra mulher e a deixou ali, sabendo da verdade. Jogando fora possibilidades reais.
Nota zero, menininho."

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O mundo é feito de trocas.

A Renata pediu para postar meu texto anterior no seu blog - http://re-volts.blogspot.com/

Eu pedi para postar essa história que ela escreveu aqui, no meu blog.

No mundo real, o moço da história troca a moça pela outra. [ ou vice-versa, se trocar o ponto-de-vista ]

Ela trocou a completa honestidade pelas mentiras sinceras.

Esse ano, eu troquei as mentiras sinceras, as white lies, as pequenas ilusões de cada dia, as auto-enganações, as simulações de sentimentos (reais e/ou irreais) por algo que, para mim, antes não tinha o menor valor: a completa honestidade, falada na cara. [ foi só assim que pude começar a fazer terapia ]

Eu não sei se a moça da história trocaria a verdade por uma ilusão, ou esse moço por outro.

Mas eu troco a incerteza por uma certeza, any time.

Nossas histórias acontecem; aqui, lá; se repetem; se misturam; se refletem. A troca está no reflexo.

E só assim a gente aprende com elas.

As trocas fazem o mundo.


Sessentindo:

Cheia


Manifesto Infeliz

“Infelicidade é mais que um mero sentimento. É um direito humano.

Nós somos muito mais inclinados à infelicidade que ao seu contrário. Se somos livres para perseguir a felicidade, não nos leva mais que alguns minutos pensando e ponderando para a infelicidade se instalar. É um sentimento muito mais natural e familiar que a felicidade. Afinal, é compartilhado por muitos mais do que a escassa alegria vivenciada pelos chamados privilegiados.

A infelicidade é democrática: pode afetar qualquer um. Também é alcançada muito mais facilmente: até em uma terra de abundância, a falta de apenas uma coisa pode trazer infinita infelicidade.

Se abraçada, a infelicidade pode despertar uma gama muito mais ampla de sentimentos (depressão, auto-desprezo, raiva) que seu oposto, a felicidade, que simplesmente é.

A infelicidade não coloca pressão naquele que a sente, ao contrário da constante e mundial exigência à qual somos submetidos para sermos felizes. A infelicidade não nos persegue. Ela surge dentro de nós.

E não há nada que possa aplacá-la. Enquanto uma pequena, singela desilusão pode devastar a felicidade, algumas pessoas simplesmente nascem com uma capacidade extraordinária para a infelicidade, que nenhuma quantidade de coisas boas, momentos alegres e pessoas queridas pode destruir.

Apesar de tudo isso, a infelicidade sempre foi mal vista. De remédios pesados, a fofos e coloridos desenhos animados, esses inquisidores felizes tentam há eras suprimir a infelicidade e impor a felicidade, a todo custo. No passado, eles acreditavam que a infelicidade era causada pelo constante medo da morte, pragas ou fome, ou a falta de condições de vida de qualidade. Mas o tempo se encarregou de mostrar que nenhum aumento de salário, escolhas, liberdade, saúde, expectativa de vida ou conta bancária das pessoas pode diminuir a infelicidade nos seus corações.

Nós temos, desde o nascimento, o potencial – e o direito – de sermos infelizes. Um poeta poderia até mesmo expressar que “ser Humano é ter o poder de ser infeliz”.

A infelicidade não surge de fora, não é imposta, tampouco demandada, muito menos esperada. Ela nasce livre e genuinamente, sem cobrar nada.

É tempo de pararmos de depreciar a infelicidade, abraçando essa capacidade verdadeiramente humana, natural à sua mente, ao seu coração e à sua alma, e admitindo que nós somos, e possivelmente seremos, para sempre, infelizes.”



Nunca tinha escrito um manifesto. Gosto mais deles quanto têm temas que normalmente não fazem o menor sentido pra maioria das pessoas. Não perguntem da onde veio, só veio. E daqui, soou verdadeiro. Notem que o tom não é depressivo e pessimista, n'est-ce pas?


Sessentindo:


Cínica


Audiovisuando: The Tudors, season 3


Interlúdio, interessante, interminado

"Unfold" ~Nicole Johnston

Ilustrando a sensação de que as férias serão tanto (ou mais) ocupadas que as aulas, uma ilustração da Nicole J.
O site dela voltou ao ar, após muitos anos. Acho que eu o achei pela primeira vez em 2003, por aí, e a primeira frase que li foi: "The reason I know spring has arrived is not the birds singing or the college girls doing Thai-Chi in spendex on public squares, but because I get this unexplainable desire to listen to the Spice Girls". E desde então eu quero ser ela quando eu crescer.

Muita coisa legal tem acontecido -- no âmbito profissional tão somente, pra compensar os outros --, mas eu tenho superstição sobre falar de coisas ainda não confirmadas, então tudo que eu digo é: esperem produtos audiovisuais inovadores! Mwahahaha

Estou há tanto tempo sem postar que os assuntos se acumularam e agora eu não sei por onde começar. Resolvi então, como um primeiro passo para voltar a postar com cofalgumacof assiduidade, desenterrar esse singelo blog de dentro do baú-de-projetos-deixados-pelo-caminho com um interlúdio.

E qual interlúdio pode ser menos egocêntrico do que divulgar um artista?

So there you go =)

Tudo indica que voltarei em breve com um post mais extenso, ainda que possivelmente mais egocêntrico...

E sobre a morte de MJ, só falo isso: todo mundo devia aprender a dançar Thriller e fazer uma flashmob gigantesca pelas ruas.


PS: Morrer é fantástico, não é mesmo? Você se torna muito mais amado! #MJ e #FarrahF



Sessentindo:

surpresa


Audiovisuando: Wedding Thriller -- That's what I'm talking about, people!

Yoho, a pirate's life

Seguindo a maré [haha, que belo trocadilho] da anti-anti-pirataria, resolvi postar algo potencialmente ilegal.

Aula de edição de rádio: misturei “Guerra dos Mundos” (versão para rádio, Orson Welles, 1939) com “The Day the Saucers Came” (shortstory do Neil Gaiman, [eu sei que eu sou repetitiva], acho que de 2006). Me senti tão pós-moderna...



Tá, não to inspirada. Acho que isso é tudo.
Prontopostei.

Sessentindo:


Estranha



- O que foi aquela explosão ali no cantinho?


Close-up de um pedaço escuro do universo


- Ah, relaxa, não deve ter sido nada.


Assisti Watchmen ontem. Gostei bastante mesmo, apesar de nunca ter lido o quadrinho, e, portanto não saber julgar se foi uma boa adaptação ou não (tão dizendo as más línguas que não é, mas nós sempre somos cruéis com adaptações). Como filme, achei muito bom. Trilha sonora não-original mega original! Ele é bem diferente dos outros filmes de super-heróis que têm sido feitos.

Mas... eu tenho uma questão. o/

Sinceramente, eu não sei dizer se é um fenômeno contemporâneo, ou se sempre existiu, mas cada vez mais eu percebo uma desilusão generalizada da raça humana consigo mesma. Como? Tipo assim:

A: - Everyone is going to die!
B: - And the universe won’t even notice.
[ Trecho de Watchmen. Tirei os nomes dos personagens pra não dar spoilers! ]

O filme não termina com essa mensagem [ok, parei! Vão e assistam!], mas ainda fica no ar uma amargura: nós causamos mais mal do que bem.

Talvez seja porque, finalmente, estamos tomando consciência do nosso impacto no planeta. Talvez seja porque nós, finalmente, estamos vendo (vendo mesmo, não é mais só lendo ou ouvindo a respeito) os crimes, as catástrofes, os desmatamentos, as inadimplências, etc., etc., que cometemos todos os dias. Agora não é mais uma idéia abstrata de que alguém, por aí, estupra crianças. Agora é imagem de criança grávida na TV.

Note, eu não estou querendo dizer que o mundo está mais violento, como já ouvi dizerem. Eu nem acho que esteja, se formos comparar com épocas em que esposas eram cortadas em pedacinhos em praças públicas se traíssem seus maridos (qualquer semelhança com o Oriente Médio atual não é mera coincidência), ou em que multidões iam assistir a enforcamentos de hereges como se vai ao cinema agora.

Mas, se nós ficamos menos tolerantes à violência, a natureza humana (também tema no filme) continua a mesma. A gente ainda mata, rouba, estupra, machuca. E, como se não bastasse a constante lembrança disso, hoje sabemos também que estamos destruindo a Natureza.

Então, voltando àquela questão de que eu tinha falado: o mundo estaria melhor sem nós?

Se cresce (ou pelo menos, eu acho que cresce) a importância dada a uma vida humana, parece que a existência da Humanidade já não é mais tão sagrada assim. O nosso umbigo diminuiu.

Afinal, um cantinho bem escuro do universo contém galáxias. E mesmo se não existir vida em mais nenhum outro lugar desse universo, quem vai sentir a nossa falta? Os oceanos vão agradecer. Os nossos deuses morrem conosco. E a Terra não vai parar de rodar e girar.

Nosso bem são nossas culturas, nossos livros, nossa filosofia, nossa ciência, nossas constantes transformação e evolução? E quem herdaria isso se sumíssemos?

Na verdade, a questão não é medir o valor da humanidade em si. Todo mundo sabe que isso é medido pela relação das pessoas. O que umas fazem pelas outras, o que deixam para trás, etc. A questão é que na balança alegórica, não estão mais “o bem da humanidade” vs. “o mal da humanidade”, e sim “humanidade” vs. “mundo”. E, pelo que me parece, ela está tendendo para o último.

Antes que me chamem de fascista, niilista, pessimista ou qualquer outro adjetivo derivado, eu não acho a humanidade ruim. Como diria o sábio Linus van Pelt, “eu amo a humanidade, são as pessoas que eu não suporto” (Peanuts) hahaha.

Só estou expressando uma sensação. Alguém aí também está sentindo isso?

Alguém?
Oi?
Opaexplodiu.


Sessentindo:



Pensativa