Are the things I’m waiting for, waiting for me, too?




Eu não tenho paixões, pensou a menina. E, logo em seguida, pensou também, Queria ter descoberto isso antes. Antes, pensava que gostar de coisas e ter paixões eram o mesmo. Gostava de castanhas, da luz no fim da tarde, de fotografar as próprias mãos, de ouvir histórias. Mas foi apenas quando teve que decidir o que queria fazer da sua vida que a menina percebeu que essas não eram paixões, eram apenas coisas que apreciava. Não agarraria nenhuma delas com unhas e dentes se de repente lhe fossem tiradas. Viveria sem elas. Queria ter descoberto isso quando era mais nova e mais criativa, assim poderia ter pelo menos inventado alguma paixão. Diria “Eu quero fotografar as minhas mãos para o resto da vida”, e isso bastaria. Mas agora isso soa falso. Agora, fazia as coisas por –

Virou a cabeça que olhava pela janela e percebeu que sua oponente a esperava impacientemente. Olhou o tabuleiro; sem entusiasmo moveu uma peça: um movimento para poder continuar seus pensamentos, ao invés de um pensamento sobre um movimento.

– obrigação. Fazia porque é preciso fazer coisas. É preciso fazer.

Ouviu um som educado. Sua oponente a olhava. Era a vez da menina de novo. A outra jogava cada vez mais rápido. A menina olhou para o jogo e, distraída, demorou algum tempo para perceber o que acontecia. Era preciso salvar seu bispo. Perguntou-se, sem grande curiosidade, há quanto tempo sua oponente devia jogar aquele jogo. Provavelmente há muito. Ou muito, muito mais do que eu.

Tirou seu bispo da posição de perigo e logo se voltou para a janela e para suas reflexões. Queria saber a origem das paixões. Dos interesses. De toda essa vontade de viver que, para a menina, era um fantasma. Sabia que deveria estar nela, em algum lugar, porque era o que todos falavam. Era tão natural para os todos. Os todos não apenas sentiam a vontade, mas também pareciam achar necessário exibi-la como um diamante. Mas quando a menina procurava, via apenas um vulto da empolgação de viver. Como a mancha desbotada de um papel de parede onde se sabe que havia um quadro.

“Você não vai jogar?” perguntou a oponente. Ela parecia impaciente. A menina não sabia dizer se era por causa da sua demora para jogar ou por que o jogo não oferecia muito desafio.

Deu um sorriso sem-graça, como se pedisse desculpas. “Na verdade, eu já não estou mais com vontade de jogar.”

A oponente sorriu um sorriso ambíguo, meio condescendente, meio irônico. “Não faz mais muita diferença...” moveu seu peão vagarosamente pelo tabuleiro, “Cheque-mate”, disse a Vida.


_______________________________________



La-ra-ra-di-da... Enquanto postagem ficcional, a nível de tentativa de reviver um blog semi-abandonado, essa é um tanto piegas. Mas, oh well, é sempre válido postar alguma coisa, não?

Anyhow, I'm back. Talvez eu volte em breve pra falar algo sobre o filme "Coraline" [E sobre como a indústria cinematográfica não tem culhões de fazer filmes infantis que responsabilizem os pais ao invés das crianças], se o tempo existir.


Beijos, e tenham paixões.
Auf Wiedersehen



Sessentindo


Ocupada




Audiovisuando: Carnivàle

3 comentários:

Rindo comigo