A Fênix do cabelo


Sempre que estou insatisfeita com alguma coisa significativa na vida (mesmo que não saiba ao certo o quê), eu mudo o cabelo. Não é necessariamente que eu não goste do meu cabelo natural, mas só me encontro nele em raras e esparsas ocasiões, tipo um cometa.

No resto do tempo, eu me submeto aos 12 trabalhos. Minha mãe, que vai ao cabeleireiro toda semana religiosamente e cujos cabelereiros são uma mescla de amigos e terapeutas, não entende minha relação com o lugar. Ela usa o mesmo corte e a mesma cor há mais de 20 anos. Já eu só vou ao salão pra mudar muito. Se saio igual me sinto um fracasso. Porque salão pra mim é uma espécie de prova de fogo.

Eu realmente detesto salão. Acho que nunca fui a um salão em que não me sentisse feia, incompetente, desconfortável ou irritada em algum momento. A lista de crimes que aparentemente cometo contra o meu cabelo só faz crescer. Meu cabelo é sempre seco demais ou fino demais ou grosso demais ou muito longo ou muito curto, muito claro ou muito escuro. Cabelo demais. (Sendo justa, eu realmente tenho bastante cabelo). Mas cada obstáculo é uma conquista. 

A tinta arde a cabeça. Meu IPTU subiu. Puxão de cabelo. Aquela minha turma fechou. Lavatório desconfortável. Eu devia voltar pra dieta. A perua quer saber da minha vida, perguntando bem alto. Não sei o que fazer do meu trabalho. Lindas mulheres loiras, sempre loiras. O carro tem feito um barulho estranho. “Você usa leave in? Tem que usar”. Já não era pra eu ter minha carreira resolvida a essa altura?

No fim, tudo escorre como a espuma no lavatório. 

“Olha, não tinha certeza, mas ficou muito bom, né? Combinou com seu rosto, ficou linda!”

Cabelo novo. A motivação renasce das cinzas.

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